Há pessoas que são ombros. Não os têm apenas, como nós, que ruímos e que neles encostamos o nosso desespero. São pessoas todas feitas de ombro, um ombro imenso, que nos serve de almofada de gigantes ou deuses, para nela chorarmos a nossa indignação face ao mundo imundo.
Outras há que são sobretudo falência, obra inacabada, fracasso. O escombro, quando tudo desmaia em direcção à terra poeirenta.
Prefiro ser ombro a ser ruína, preciso de ser a mãe de braços infinitos e peito macio de planície, a ser o pássaro de asas feridas, de voo interropido pela poeira.
Não é fácil ser ombro, um ombro imenso, a dor de ser a mãe de mãos generosas é com certeza maior. Sofrer ou assitir ao sofrimento? O desencanto da certeza ou a angústia da dúvida? De que lado será melhor crescer? Inconscientes na ruína, vamos ganhando corpo, subindo, subindo bem alto, até darmos conta de que também nós nos tornámos ombro, um ombro imenso, e que um inesperado bando de pássaros esvoaça à nossa volta, em busca de amparo.
Imagem: pormenor da "Pietà", de Michelangelo
Imagem: pormenor da "Pietà", de Michelangelo
Vera:
ResponderEliminartens um convite para chá no meu cantinho.
Quanto ao post, realmente também prefiro ser ombro.
Beijinhos
Vera:
ResponderEliminarobrigada, pelo carinho e palavras reconfortantes. Tenho tido o pior ano da minha vida, tornando-se difícil suportar tanta dor. Neste momento, mal arranjo forças para preparar as refeições das meninas. Não sei como vou conseguir sorrir aos meus alunos e começar a trabalhar segunda, por isso, mais uma vez obrigada pelo carinho...Acredita que me fez bem ler.
Quanto ao jogo, pode ser aqui no teu cantinho. Quem me dera estar perto de ti e bebermos esse chá de verdade, pois bem precisava de falar com alguém.
Beijos grandes.
Obrigada.
Veio mesmo a calhar...
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