segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Escrevendo...

"A chave entregue na D. Ermelinda, a porta fechada para sempre. As roupas nas gavetas, os frigoríficos e a despensa cheios, os brinquedos dos miúdos em suspenso, a cassete do Toy Story inserida no leitor de vídeo, os produtos nas casas de banho, os discos, os livros, os candeeiros, a grafonola comprada na loja de antiguidades, os móveis adquiridos em antiquários, a roupa de praia, a loiça, os vinhos na adega, tudo ficou. Lembrava a história dos três ursinhos e da menina dos caracóis de ouro, um dia alguém ia entrar e ver a sopa fumegante na mesa posta, as camas feitas, Alguém mexeu na minha sopa, alguém se deitou na minha cama. Como Pompeia, a casa ficara suspensa em lama e cinza, deixando os habitantes entregues à poeira e ao abandono do tempo, encurralada numa solidão húmida, com o fantasma das crianças rindo e correndo pela casa e no baloiço lá fora.

Durante três anos nenhum dos dois lá voltou. Sara porque à simples ideia de o fazer chorava, e Júlio por mero desapego, ou assim julgava ela."
(do livro em que estou a trabalhar)

3 comentários:

  1. Fascinante! Quantas vezes isso acontece...não conseguirmos voltar a certos lugares, que, no entanto, permanecem iguais...Assim foi, por exemplo, na casa da minha avó:quando o meu avô morreu, a minha avó mudou-se para casa da minha tia...A casa dela ficou igual, como se ainda morassem lá, mas nunca mais nenhum dos netos lá entrou.
    O meu avô era assim como um 2ºpai, para mim.
    Beijinhos

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  2. Querida Isabel, obrigada por partilhar isso comigo, connosco. Um grande beijinho

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  3. Amiga...fantástico. Aguardo...:)

    beijo grande

    Rosário

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