Três e meia em ponto na sala de espera do dentista. Arrasto uma poltrona por uns metros, para poder ler e escrever com luz natural. Do consultório - que mantém a porta aberta assumindo o ambiente familiar e descontraído - chegam-me conversas animadas e o ruído do aspirador de saliva e da malfadada broca. É-me quase incompreensível, esta coisa de vir aqui por vontade própria e ainda por cima pagar. Pagar para sofrer. Deve constituir uma prova irrefutável de maturidade, como o dia em que começamos a comer bróculos e couves-bruxelas por auto-recriação, tomamos banho sem que nos ordenem, ou não deixamos de telefonar a agradecer um presente.
Passamos um mau bocado naquela cadeira.
A boca escancarada, os olhos a meia-haste, fixando o rectângulo de fibra de vidro que lança uma luz intensa e quente; as inúmeras ferramentas que entram e saiem da nossa boca, muito atarefadas a fazer obra.
Todas as 4ªas feiras às 15.30, por uns tempos, aqui estarei. Virei até que os meus dentes, depois de uma batalha feroz em equipa, reencontrem a sua dignidade.
Ironicamente, e mesmo respeitando as indicações da dentista ("uma hora sem comer, por causa da massa"), mastiguei, com paixão, uma sanduíche mista uma hora e meia mais tarde. A massa? Foi-se na massa do pão e em mim ficou nada mais do que uma cratera irritante e a sensação de um sacrifício inútil.
Conclusão: ou fazes dieta ou não vais ao dentista.
ResponderEliminarBeijo.inêsmartins