domingo, 14 de agosto de 2011

Universo

Um verso apenas
Para enumerar as paixões
Para chorar nossas penas
Ou quebrar ilusões
Um verso só
Músculo ínfimo
Minúsculo, íntimo
Transformado em pó
Se no início era o verbo
E nele existe movimento
Em quietude me pergunto
Será o inverso o fim?
Neste meu pensamento
Inscrevi um mundo imerso
Com uma palavra apenas
Fiz nascer algo perverso
Um verso apenas
Um verso só
Eis o meu solitário 
Universo


(VERA DE VILHENA)

3 comentários:

  1. Parabéns Vera pelo texto fantástico.
    Parabéns por transformar um único verso na grandeza do universo.

    Quando tiver tempo, gostaria que conhecesse meu blog com textos, crônicas e poesias.
    http://sujeitoeliptico.blogspot.com

    Adorei!
    Abraços.

    Rodrigo Eimantas

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  2. BOa Tarde Vera!

    Em Janeiro deste ano, a Vera surpreendeu-me com um poema seu que começava assim:

    ‘Sou criança sem recreio
    Atrás de um vidro de inverno
    Lanço pequenas nuvens brancas
    Sobre os olhos desta casa’

    Lembra-se?

    Pois foi. Nessa altura fiquei deveras surpreendido como tinha sido capaz de escrever uma coisa tão bonita e depois, …bem depois guardá-la numa gaveta. Realmente nós somos muito complicados. Transpiramos e criamos com algum génio um texto, um poema que, de imediato por pudor penso eu, guardamos a sete chaves num sítio qualquer, a tal gaveta, como que envergonhados daquele pedaço de nós, ali indefeso. Tempos passados, e agora por despudor, resolvemos partilhar esse filho, essa parte de nós com o mundo; e zás, blogue com ele, ou, em casos mais sérios publicado num livro. Nessa altura, creio que lhe perguntei como é que estava a gaveta, se meia cheia se meia vazia. Hoje sem hesitações pergunto-lhe: E para quando um livrinho de poesia?

    E passo a consubstanciar a pergunta. Se a Vera é capaz de produzir algo tão bonito, tão sentido como o é este poema, então porque não publicar coisas destas mas num livro?
    Um livro, nós sabemos que é praticamente eterno e isto dos blogues… quanto tempo irão durar? Será que as gerações vindouras ainda terão disponíveis estes blogues todos que nós alimentámos com poemas como os seus?
    Possivelmente, por já estar a ficar velho, não acredito nestas eternidades actuais.

    E depois Vera, quem é capaz de criar um ‘Úniverso’ tão cândido, tão sereno, tão feminino, não pode depois encerrá-lo dentro das duas dimensões de um blogue. Não faça isso. Não ponha fronteiras a esse seu …solitário Universo. Ofereça-lhe a universalidade de uma página de um livro.

    Os meus mais sinceros PARABÉNS, e o meu respeito pela sua honestidade poética.

    Com amizade,
    Mário de Sousa

    Nos Salgados em 17 de Agosto de 2011-08-17

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  3. Olá Mário!

    Que simpatia a sua! Muito obrigada pelos mimos que oferece ao meu ego. Há poemas que se escrevem com grande honestidade. Que nos saem das vísceras. Há outros mais cerebrais, meros desafios do intelecto, construídos com a pena ligeira, veloz. Por vezes são versos lançados ao mar como mensagem numa garrafa, um pedido de socorro; noutras ocasiões nascem-nos entre os dedos, qual malabarismo, com graça, irreverência, brincando com as palavras por simples capricho. Pensarmos em publicar os nossos poemas é sempre um desejo legítimo, uma exposição junto dos outros, mas também uma prova da fatia de vaidade que existe em nós, como quem exclama, Vejam o que eu sou capaz de fazer! Partilhar aqui no blog alguns poemas mais sinceros como o "Hálito" ("sou criança sem recreio") é já um grande passo para mim, sabe? É algo muito diferente da escrita de ficção. E quem iria ler esses poemas, Mário? A poesia vende tão pouco...só se for para que fiquem vestidos de livro. Uma recordação para os netos, nesse caso porque não? É a segunda pessoa que me sugere, nas últimas semanas, que edite os meus versos. Só isso já é muito bom, acredite. Quem sabe? Talvez um dia, se eles se insurgirem da gaveta e começarem a fazer exigências. Enquanto se portarem bem, vou deixá-los a hibernar por alguns invernos ainda. :)

    Um abraço com a minha amizade e gratidão

    Vera de Vilhena

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