Há imagens que nos fazem escrever qualquer coisa, que nos arrancam um pensamento. Quando a felicidade dos nossos dias já ganhou um tom sépia e sentimos que os nossos sonhos são assim, barquinhos feitos de quantos-queres à deriva, prestes a murchar sobre a película da chuva morna, entre a luz e a sombra, ficamos sem saber muito bem se foi o texto que encontrou a imagem ou se foi ao contrário (não gosto de vice nem de versa, só de versos).
Mas é assim, casamento perfeito, os barquinhos coloridos na fragilidade da passadeira, na iminência do atropelamento, um toca-e-foge, sem testemunhas, sonhos para sempre esmagados, feitos em pasta de papel. E a luz, sempre aquela luz que podia ser esperança, que parte e regressa ao sabor das estações, incidindo na zebra onde é preciso atravessar com cuidado, mesmo que tenhamos toda a razão do mundo. Não é fácil tentar viver, atravessar para um lado qualquer.
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