quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Frio

Tenho as mãos entorpecidas pelo frio. Não é martelando com a ponta dos indicadores no teclado que aqueço. Até os cães parecem velhas doentes, escusando-se a ir lá fora e ficando deitados, sobre o soalho ou enroscados no edredão com os bonecos do Tarzan. Este sol é mentiroso, está presente mas não nos oferece calor. Talvez o reserve para si mesmo, tentando fugir ao inverno. Este mesmo sol que, noutras latitudes, estende os seus raios a tornar cálidas as manhãs e as tardes. Tem duas caras, várias faces, como a lua. Traidor. Sádico. E só nos resta enrolar o corpo em muitos trapos, camisolas sobre camisolas, e fazer subir a conta da electricidade.
Estou vazia de ideias. Devem ter congelado em mim. Só tenho isto. Isto e um frio que criou raizes no meu corpo.
Roubei a imagem aqui

sábado, 23 de novembro de 2013

18 anos

 ...e pronto, o meu filho entrou oficialmente na idade adulta. Pode votar, ter carta de condução, entrar em todas as salas de cinema, discotecas e bares sem ter de apresentar BI (até porque tem 1.80m), sair do país sem que eu tenha de assinar uma declaração no cartório notarial, com selo branco, enfim, o meu filho já não precisa de mim. E eu que preciso tanto dele. 
Ter um filho é perder a paz para sempre. Ter medo. Uma espécie de amor que não tem comparação possível. É ter alguém que nos fará exclamar um dia "Vou ser avó!" É não acabarmos em nós. É estender os ramos da nossa árvore e semear o mundo com gerações futuras, o que é algo de extraordinário. Eu tenho um filho com 18 anos que começou na minha barriga e foi crescendo.
Dezoito anos. Dezoito instantes.
Com 9 meses, em casa dos avós. Agosto 1996

O primeiro verão no Algarve

Sesimbra, em grande estilo 1999

Com a prima Maria, quais duendes da floresta, Évora

Com a Lilian Kopke, amiga do peito

Comigo, em Caxias, sessão de estúdio com o Nanã, 2002

Carnaval "A Minha Escola", com Inês Pignateli, grande amiga

Piscina do Estoril-Sol, 2003
Com o Gaspar, seu fã nº 1, 2007
Com Isabel e Luís
                               
Com o Gastão, 2009
Com os vizinhos Tomás e Constança, 2009
Com a P. Aldeia do Meco, 2009

Comigo em Islantilha, 2009
Manifestação pacífica anti-Sócrates, Av. Liberdade


Celebrando o Prémio Revelação APE/Babel, 2010
Com o Micas, 2011

No coffee-shop "Brown's", Chiado, 2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Ilha de Melquisedech

E pronto, eis que chegam os convites para os dois lançamentos do livro desta vossa amiga. A sensação é, sobretudo, de alívio, confesso.
LISBOA
ERICEIRA

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Leonardo da Vinci

A estranha "viola Organista", desenhada por Leonardo da Vinci, é escutada pela primeira vez...500 anos depois!
Take a bow: The viola organista's strings are played in the same way as a cello. Photo: Tomasz Wiech/AFP

"A bizarre instrument combining a piano and cello has finally been played to an audience more than 500 years after it was dreamt up Leonardo da Vinci.
Da Vinci, the Italian Renaissance genius who painted the Mona Lisa, invented the ‘‘viola organista’’ - which looks like a baby grand piano – but never built it, experts say.
The viola organista has now come to life, thanks to a Polish concert pianist with a flair for instrument-making and the patience and passion to interpret da Vinci’s plans.
Full of steel strings and spinning wheels, Slawomir Zubrzycki’s creation is a musical and mechanical work of art.
‘‘This instrument has the characteristics of three we know: the harpsichord, the organ and the viola da gamba,’’ Zubrzycki said as he deb

The instrument’s exterior is painted in a rich midnight blue, adorned with golden swirls painted on the side. The inside of its lid is a deep raspberry inscribed with a Latin quote in gold leaf by 12th-century German nun, mystic and philosopher, Saint Hildegard.
‘‘Holy prophets and scholars immersed in the sea of arts both human and divine, dreamt up a multitude of instruments to delight the soul,’’ it says.
The flat bed of its interior is lined with golden spruce. Sixty-one gleaming steel strings run across it, similar to the inside of a baby grand.
Each is connected to the keyboard, complete with smaller black keys for sharp and flat notes. But unlike a piano, it has no hammered dulcimers. Instead, there are four spinning wheels wrapped in horse-tail hair, like violin bows.
To turn them, Zubrzycki pumps a pedal below the keyboard connected to a crankshaft. As he tinkles the keys, they press the strings down onto the wheels, emitting rich, sonorous tones reminiscent of a cello, an organ and even an accordion.
The effect is a sound that da Vinci dreamt of, but never heard; there are no historical records suggesting he or anyone else of his time built the instrument he designed.
A sketch and notes in da Vinci’s characteristic inverted script is found in his Codex Atlanticus, a 12-volume collection of his manuscripts and designs for everything from weaponry to flight.
‘‘I have no idea what Leonardo da Vinci might think of the instrument I’ve made, but I’d hope he’d be pleased,’’ said Zubrzycki, who spend three years and 5000 hours bringing da Vinci’s creation to life."

(notícia retirada integralmente do jornal online "The age", 18 Novembro 2013)

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Varre varre vassourinha

Tenho a cabeça cheia de coisas caseiras. Do baú retirei o ponto-cruz, terminei um velho bordado há muito abandonado e ficou-me a vontade de abrir outras revistas de fada do lar, que me mostram truques vários e novos motivos, novas razões para bordar. Peço à casa que me relembre as cores originais; os tarecos, meio perdidos, suplicam-me que lhes devolva a dignidade, também eles querem morar na sua casa mais ilustre, este livro entre este e este, este prato mais pequeno fica em cima do maior, este frasco de perfume que não uso vai para o fundo, o vestido já não serve, vai para os pobres ou emagreço. O orgulho anda vivo, resgatado e devolvido à dona da casa...paradoxo, já que a minha casa, até ver, é o banco que (a) tem. Pico pico sardanico, varre varre vassourinha, esconde o pó que o espirro vem, ilusões são o que resta, faz -de-conta-que-sou-dona-desta-casa, presas por um fio, eu e ela, presa por ter e por não ter vintém. Adio projectos elevados para esfregar o soalho, De pano aveludado cor-de-laranja na mão, aguardo que a poeira dos meus gritos assente e retiro o pó à indignação. Nada é transparente nesta casa, nada é limpo; vidros encaixilhados denunciam a mancha, o tempo de abandono a que andam condenados desde a última vez em que se viram bem lavados. Sedenta, a casa pede água; faminta, pede recheio nas paredes imperdoavelmente vazias, todas nuas, despudoradas, uma vergonha de se ver. As janelas, de olhos baços, cataratas lacrimosas, pedem como mendigos que a esfreguem, que a coçem, que a livrem de mil bichos. Uma dança interminável, diabólica e suja. O diabo esfrega as bancadas comigo e sabe que não nego a sua ajuda. E ri-se: ri-se de mim, o maldito, pois só ele sabe que na verdade nada desaparece. Não verdadeiramente... 
Tudo
apenas
troca
                                                   de lugar.
Varre
         varre
                 vassourinha
Que esta casa não é tua
(mas também não será minha...?)
Enquanto o diabo esfrega o olho
Dou um salto e aproveito
P'ra fechá-lo na cozinha.

domingo, 17 de novembro de 2013

Morreu Doris Lessing

Doris Lessing com o Nobel da LiteraturaFotografia © Reuters
"A escritora britânica Doris Lessing, autora de 'Os Cadernos de Ouro', 'O Quinto Filho' e 'Fenda' morreu esta madrugada, na sua casa, disse ao DN fonte próxima da autora. Tinha 94 anos.

Lessing nasceu no Irão e viveu no Zimbabué, mudando-se em 1949 para Inglaterra. Faleceu esta madrugada vitima de doença prolongada.
Doris Lessing foi distinguida com o Nobel em 2007 quando já tinha 88 anos e foi a mulher mais velha de sempre a receber este galardão.
Há já algum tempo que Doris Lessing tinha perdido a memória de um dia ter sido escritora, Prémio Nobel da Literatura e quase tudo o resto. Porém ainda adorava ouvir ler. Quando a visitavam os amigos liam-lhe excertos de livros que ele escrevera, por vezes ela emocionava-se mas não se lembrava de os ter escrito.
Com 94 anos, Doris Lessing vivia desde há alguns anos aos cuidados de duas enfermeiras e do filho mais novo, Peter Lessing. Porém, a morte de Peter há cerca de um mês atrás terá acelerado a morte da escritora.
Tão conhecida pelas suas novelas e romances como pela sua militância de esquerda, as suas posições anti-apartheid, anti-colonialistas e feministas, Doris Lessing foi, em 1956, proibida de entrar na África do Sul e no Zimbabué."

sábado, 16 de novembro de 2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Valter Hugo Mãe

"Pensava que quando se sonha tão grande  a realidade aprende"

(VALTER HUGO MÃE, in "O filho de mil homens")

domingo, 10 de novembro de 2013

Universo

A insónia anda a invadir-me as noites. Quando os olhos pesam fecho o livro, apago a luz e disponho-me a adormecer. No entanto, na escuridão do quarto, a mente rodopia como leve tufão, de lembrança em lembrança, de pensamento em pensamento, como pena recusando-se a pousar. Finjo que durmo por algum tempo e torno a abrir os olhos, retomando o fio de prumo que me vai submergindo, verticalmente, nas mesmas lembranças e pensamentos, cada vez mais fundo...até se diluir em algo que posso comparar à vigília de uma noite de cinzas. Logo o novelo me envolve outra vez, e eu recordo então que a insónia é um inimigo impossível de combater e que devemos manter por perto: assim me entrego, ensaiando fazer com ela algo de construtivo. Leio mais umas páginas. Faço um chá de frutos silvestres, que é o que tenho em casa nesta noite parda, e digo ao corpo, vá, são três da manhã, pára com isso e dorme. Ele obedece, semeando em mim uma espiral de sonhos disparatados que me torna consciente de cada volta que dou ao corpo, para a esquerda, para a direita, na teimosia do sono e no roçar morno da almofada. Às sete horas deste domingo de sol indeciso desperto definitivamente. E é então que compreendo: gentil, o corpo tenta dizer-me que o tempo não pode ser desperdício. E eu obedeço e faço o que tenho de fazer para cumprir - não o sono - mas um sonho. Para que não seja uma quimera. Seja em mim um despertar tecido no pó de estrelas que somos todos nós, à procura de um lugar no universo.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Namoros

Vista do lado sul, num dia de chuva
Completam-se hoje sete anos desde que vim morar para o campo. A escolha de cumprir o sonho da vida bucólica tem o seu preço. Abandonar a cidade faz com que abdiquemos de uma série de consolos e de confortos, a troco de outros consolos e outros confortos. Tenho saudades dos meus amigos. De ser fácil estar com os que amo. Já não posso pegar em mim e aparecer numa exposição, num lançamento de um livro, num concerto, num jantar ou numa sala de cinema meia hora depois. A distância, a falta de transportes e a minha limitação de condução automóvel acabam por me aprisionar nesta imensa gaiola campestre. Acostumamo-nos a tudo, ou a quase tudo, e bem ou mal vamos fazendo por realizar os pequenos projectos que são para nós tão indispensáveis como respirar ou mover os braços. Às vezes o meu projecto de vida é apenas isto: sair. Há dias em que me arrependo da minha decisão. Há outros em que sou incapaz de entender como é que as pessoas aguentam viver diariamente mergulhadas no caos próprio da cidade, enfiadas no interior de um automóvel, respirando o fumo dos escapes, sobressaltando-se com a impaciência das buzinas, serpenteando entre edifícios que me sufocam. 
A insatisfação faz parte da nossa alma tecida em íntimos caprichos. 
A perfeição é uma impossibilidade.
Tenho a perfeição no regresso a casa. Ao abrir a janela do meu quarto. Ao sentir o calor da lareira, ver os cães a correr felizes, o meu filho a chegar com um saco de pinhas, de figos, de amoras...o cheiro da terra molhada em tempo de chuva, os jantares tardios com os amigos...
mas também
Tenho a perfeição no partir. Rumo ao ruído urbano, a deambular pelas ruas, pelas lojas e cafés, que me relembram que sou também um ser citadino, carente dessa pulsação acelerada, do frenesi das luzes, do atropelo das conversas, dos semáforos, dos eléctricos, dos horários apertados, do sentir-me viva entre gente que mexe. No reencontro com as coisas que perdi, torno a despertar, a sentir o sangue correndo-me nas veias. 
mas
é sempre com alívio que regresso ao meu vale, perto do mar, e torno à flor silvestre que sempre fui. Por isso talvez tenha valido a pena. 
Sete anos.
Sete anos de solidão. Uma doce solidão que ainda tem artes de me seduzir.
Cogumelos ao pé de casa, caçados numa das minhas caminhadas.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Ondjaki

"O escritor Ondjaki recebeu hoje o Prémio José Saramago pelo romance "Os transparentes", no mesmo dia em que é publicado o seu novo livro, "Uma escuridão bonita", com ilustrações de António Jorge Gonçalves.
O Prémio José Saramago é o segundo galardão que o escritor angolano recebe este ano, depois do Prémio Fundação Nacional do Livro Infantil, pela obra de ficção juvenil "A bicicleta que tinha bigodes", que lhe tinha já valido o Prémio Bissaya Barreto, no ano passado.
Ondjaki, pseudónimo literário de Ndalu de Almeida, é um termo da língua umbundu que significa "guerreiro". O autor estreou-se literariamente em 2000 com o livro de poesia "actu sanguíneu" (fim de citação)"
Lisboa, 05 nov (Lusa)

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Em vias de extinção I

                             

Hoje começo um novo tema, dedicado às pequenas boas coisas que, tristemente, estão a desaparecer. 
Este artigo reflecte o que eu sinto e penso acerca do assunto: as cartas que deixámos de escrever.

"Does anyone write them anymore? 
I am quite sure that the answer is fewer and fewer people. With the holiday season upon us, I have seen more than a few stories about the decline in post office business, not just the catalogues that used to clog our mailboxes but also the cards and letters that used to brighten the season.
I think this is a shame, and I am guilty as anyone. I cannot remember the last time I wrote a letter to someone. However, I do remember the last few letters I received, vividly and fondly. Two were from colleagues of mine at the University of Michigan who wrote to me about recent events in my life, and one was from a student for whom I provided a recommendation. Mind you, many other people communicate with me, by phone or by e-mail, but these three letters are what I remember. I have read each one many times, savoring them. I keep them on my desk, midst flashdrives and paperclips, and I will continue to reread them any time I want to feel good or until they become too faded to be legible.
What makes a good letter? For me, a good letter is personal and personalized. A good letter takes time to write. The thing about writing a letter is that no one can multitask while doing so, unlike e-mails or telephone calls. A letter represents undivided attention and is precious as a consequence. Oh yes, a good letter is handwritten, not a cut-and-pasted, global searched-and-replaced bit of faux intimacy. It need not be written on fancy stationery or an expensive card — the three letters I have been cherishing were written on plain notebook paper! And a good letter is one that required the writer to find a stamp and an envelope and a postbox!

(em "The Good Life", Positive psychology and what makes life worth living.", por Christopher Peterson)

domingo, 3 de novembro de 2013

Sherlock

Comecei a ver com o meu filho a série "Sherlock", que já me conquistou. Há tempos tinha-me cruzado com ela e desprezado, ao constatar que o cenário temporal era o da actualidade. Exclamei logo, ao fim das primeiras imagens: "ah, não, nem pensar!" e não lhe dei oportunidade. Ultrapassado esse meu capricho, que não queria abrir mão das carruagens, dos chapéus, do vestuário, dos candeeiros antigos e dos mil pormenores do séc. XIX, que fazem as delícias a românticos como eu, dispus-me a conhecer esta série e fiquei fã. O casting é excelente, o ritmo, os diálogos, a iluminação, realização irrepreensíveis, os efeitos especiais muito bem aplicados e doseados, enfim, está aprovadísssima. 
Se não conhecem ainda, recomendo.

sábado, 2 de novembro de 2013

Só uma

Por estes dias? Pouco mais do que isto.

...
...

A aquecer os motores na...


RAMPA DE LANÇAMENTO

...

...

A ver se apanho uma estrelinha lá em cima.

Só uma, vá. O céu tem tantas.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Leituras

Em 2005 saiu a 1ª edição de um livro precioso: um ensaio sobre o Terramoto de 1755, edição irresistível da Tinta da China, com direito a capa dura forrada e fita de cetim púrpura e tudo. Este foi para mim um ano bastante "tremido" também, um ano em que vivi um pequeno drama que se prolongou e teve consequências às quais ainda hoje tenho dificuldade de me resignar. Lembro-me de constatar que jamais iria conseguir ver os mapas que este livro contém, senão com uma potente lupa. E tenho até ideia de que os meus olhos desistiram: não consegui terminar a leitura. Foi um dos meus falhanços visuais dessa época. Mas nada disso é comparável ao que Lisboa viveu neste dia e nos que se seguiram. Para assinalar a data, aqui têm: