terça-feira, 10 de junho de 2014

Dedos


André Breton, Surrealismo - Manifesto (1924)
Falam da escrita automática, escrever sem pensar no que a mente quer, deixar os dedos correr até à descoberta daquilo que verdadeiramente querem dizer. A mentira, a força de nada terem para dizer e terem de dizer forçosamente alguma coisa que importe a quem lê. É preciso escrever, mostrar que se tem algo dentro, ser a diferença, ser escritor. A banalização de algo que antes era singular; era preciso a história, a escrita exemplar, a voz, o ser-se único e agora não há quem não escreva; todos publicam em espaços virtuais e nem eu posso insurgir-me contra tal, que de banal tenho tanto que pertenço também a essa massa anónima de gente que acena, Olhem para mim, vejam aquilo que sou capaz de escrever. Nada, não é nada. Não somos fazedores de grandes histórias, não fazemos sequer parte de uma grande História, nem personagens somos. Perdoem-me, perdoem-me se hoje assim me expresso, são horas de estupefacção face aos festejos do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, quando estamos tão carentes do sentido de comunidade. Da comunhão. Da humildade. De razões para o Orgulho que antes era pão, o alimento das primeiras horas, a arrancar o dia. Não liguem, não liguem ao que hoje escrevo, são os dedos, os dedos que escrevem por mim. À traição.

4 comentários:

  1. Verinha, tu nem sequer tens noção do perfeccionismo da tua escrita?!!! Pois eu como leitora que sou (como sabes) digo, que tu envergonharias muitos escritores pt, que se dizem escritores. Tens um dom, qualquer coisa inata, nascida não sei onde, vem não sei como e 'agarra' o leitor não sei porquê. Eh eheh -Camões of course, mostly .

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    1. Elsa, assim fico sem jeito, deixa-me ir ali enfiar-me num buraco...

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    2. Não, não, tu tens um dom, e poucas são as críticas aos teus dois livros...falta de tempo, ora amiga, desculpa velha. Nas artes os artistas de 'nome', não gostam de concorrência, especialmente se escrevem melhor que eles.

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