sexta-feira, 15 de maio de 2009

"Nunca mais é férias!"

Hoje penso ter dado a última oficina de Escrita Criativa deste ano lectivo. Não sou professora e apenas me encontro com alunos para umas poucas sessões, em que o tempo parece correr mais depressa, com a ajuda de jogos e da fuga à rotina das aulas. Na verdade, comparativamente ao trabalho muitas vezes ingrato de um professor, encontro-me numa situação privilegiada. Costumo dizer-lhes: não me tratem por "stora", mas sim por Vera, não estou aqui para ensinar gramática, dar notas ou corrigir erros de ortografia, mas sim para que aprendam algo de novo, enquanto se divertem!

Num dos jogos que faço, intitulado "Vamos desabafar", incito-os para que escrevam uma ou duas quadras sinceras, começando por "Eu detesto...", "Estou farto...", "Quem me dera..." e a verdade é que estão todos fartos da escola: as mochilas pesam mais, a cadeira tenta expulsá-los do assento, o sol, prestes a anunciar o Verão, chama-os com malícia, e o canto das aves parece ser uma espécie de cúmplice, nesse jogo. Os lápis estão pequeninos, de tanto serem afiados, e já que estamos quase no final do ano, não vale a pena comprar outros; as canetas, obrigadas a escrever mais uma redacção, já não têm nada para dizer, nas mãos dos seus donos; a campainha da escola, de tanto tocar, soa dissonante, rouca, irritante aos ouvidos dos alunos; como soldados, eles saltam de cadeira em cadeira, enquanto os professores, numa corrida contra o tempo, tentam cumprir o programa nos poucos dias que lhes restam.

Depois do aquecimento e de puxar o lustro às primeiras palavras, volto a desafiá-los para que escrevam um pequeno poema, sem medo: e o curioso é que, de entre todos os temas que sugiro, o cenário eleito é, sem dúvida, a praia: conchas, sol, mar, verão, maré, ondas, gaivotas, voar, areia, gelado, rouxinol, férias, bicicleta, bola, peixes, algas... e os verbos a servir os sonhos: brincar, nadar, sonhar, parar, jogar, saltar, viajar...

Deixo-vos com dois poemas de alunos do 6º ano, que espero não levem a mal o meu atrevimento.


"É bom quando estou a ver o mar
Faz-me sentir tranquila e relaxar
Estar de férias, tempo para brincar
É uma altura em que me faz relembrar

Quem me dera poder voar
Sentir que estou no ar
Lá irei cantar
Até não aguentar

Eu gosto dos meus amigos
Com eles não corro perigos.
Amigos verdadeiros
São os mais porreiros”
(Débora Gomes)




“Natureza:

As flores são bonitas,
São alegres e coloridas
Mas chega a poluição
E apanha-as desprevenidas

O vento desconhecido
Vagueia pelo mar
Dos mais escondidos recantos
Até um simples glaciar

A chuva cai
E o chão fica molhado
A vida cresce
Cresce por todo lado

O sol brilha no ar
Sempre quente
Sempre a rir
Sempre a sonhar”
(Fábio)



AQUI FICA O MEU CARINHO E PERDOEM-ME TER-VOS OBRIGADO A ESCREVER TANTO. AINDA BEM QUE ESCREVERAM!

2 comentários:

  1. É tão bom perceber que há e haverá sempre gerações futuras que escrevem! É tão gratificante haver quem as incite a fazê-lo!
    E entre os adultos que se atrevem a passar para palavras escritas, vontades, sentimentos e desejos que lhes dançam no interior, são muitos os que também recorrem a realidades como o sol, o mar, a areia, sonhar... não fossem elas passaportes para todos viajarmos do interior de nós para a criatividade e, tantas vezes, partirmos sem sair do lugar.

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  2. Vera:
    alunos e professores sentem o cansaço de um ano lectivo. Pior é tanta tarefa a cumprir neste final!
    Sabes, procuro dar o programa cedo, os conteúdos nucleares antes desta altura de cansaço.
    Agora recorro à poesia, que é do agrado deles. Os pequenos têm poesia dentro...
    Faço ilustração de histórias, mostro-lhes powerpoints(ontem adoraram ver Nasredin e o burro) ou fazemos dramatizações...
    O que havia a reter, já ficou...não vale a pena insistir agora.
    Na próxima semana, são as provas de aferição e aí piora...e as férias ficam ainda mais presentes!
    Beijinhos.

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