quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Carteiro de Pablo Neruda

Uma promessa de boa leitura, para o verão que se aproxima: a acção passa-se na Ilha Negra, no Chile. Os homens seguem o ofício de pescadores, uma das poucas opções naquele lugar. Mário Jimenez, contrariando a tendência de várias gerações, decide tornar-se carteiro. Só Neruda recebe correio, na sua casa de frente para o mar. Os dois tornam-se amigos e Neruda acaba por ajudar Mário a conquistar o coração da bela Beatriz. Baseado em factos reais, Antonio Skármeta transporta-nos para o Chile de 1969 em diante, tendo como pano de fundo a eleição de Salvador Allende e a vida do grande poeta. Este livro é verdadeira prosa poética, refrescante, onde não faltam pinceladas de humor e comoção. Muitos já viram o filme, é certo, mas à semelhança do que acontece muitas vezes nestes casos, o pequeno livro supera a versão cinematográfica. vale a pena ler.

Aqui ficam algumas passagens escolhidas um pouco ao acaso:


"- Como eu gostava de ser poeta!
- Homem, no Chile todos são poetas. É mais original que continues a ser carteiro. Pelo menos andas muito e não engordas. No Chile todos os poetas são barrigudos."
(...)
"O carteiro Mário Jimenez tomou à letra as palavras do poeta e fez o caminho até à calheta perscrutando os vaivéns do oceano. Embora as ondas fossem muitas e o meio-dia imaculado, a areia mole e a brisa leve, não floriu nenhuma metáfora. Tudo o que no mar era eloquência, nele foi mudez. Uma afonia tão enérgica, que, em comparação, até as pedras lhe pareceram tagarelas."


" - Filhinha, não me conte mais nada. Estamos perante um caso muito perigoso. Todos os homens que primeiro tocam com a palavra, depois chegam mais longe com as mãos.
- Que mal têm as palavras! - disse Beatriz agarrando-se à almofada.
(...) - Prefiro mil vezes que um bêbado te apalpe o cu no bar, a que digam que um sorriso teu voa mais alto do que uma borboleta!"

("O Carteiro de Pablo Neruda", de ANTÓNIO SKÁRMETA)

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