Saí de casa com duas horas e meia de antecedência. Apanhei três transportes para ouvir o meu filho cantar durante 3 minutos. Se valeu a pena? Sim, absolutamente. Há emoções que valem sempre a pena.
Chiado:
Decididamente, não volto à Brasileira. Já uma vez aqui escrevi acerca deste café histórico onde há muito não se faz jus à sua fama nem à estátua do Senhor Pessoa. Outra novidade: para utilizarmos a casa de banho temos de apresentar o talão do balcão, ou seja, barram-nos a entrada a não ser que provemos que acabámos de consumir algo, ou seja, eu explico melhor, há consumo obrigatório para podermos fazer um xixi. Não, não basta não termos ar de marginais ou o bom senso de consumirmos alguma coisa depois, por simples boa educação. É evidente que saí e fui à pastelaria do lado que me serviu, com boa cara, uma bica excelente e um dos melhores pasteis de nata que alguma vez comi. É caso para dizer que da Brasileira tenho...a minha conta. Sem factura.
No ar soava o último Hit lusitano, o Grândola Vila Morena na voz do Zeca, novamente repescado para simbolizar mais uma manifestação iminente.
Quando desci do Largo de Camões ao Chiado, lá estava ela: polícias de carro e de mota, a multidão a subir vinda do Rossio, as filas de bandeiras encarnadas, os solistas de belas vozes e um coro afinado e impressionante de crianças, todos cantando a Vila Morena. Não houve distúrbios, tudo se fez com ordem. Para esquecer a crise e aproveitar a ida a Lisboa entrei nos velhos armazéns renovados, fingindo para comigo mesma ter dinheiro na carteira para gastar em inutilidades; espreitei algumas das minhas lojas preferidas, suspirei, como é meu dever de mulher, por almofadas, senhorinhas, candeeiros, perfumes, um serviço de pratos, sapatos. Numa troca bem-disposta de sms com o meu marido, já me dei por feliz ao saber que tínhamos voltado a ter internet, finalmente.
Três transportes de volta, de regresso a casa. Eu muito provinciana, sem saber recarregar o cartão do metro. Antes era tudo tão mais simples, ou é impressão minha?
Ainda houve tempo para um cafezinho junto à praia, apesar do frio terrível que hoje chegou. Enfim, frio terrível. Os siberianos fartavam-se de rir, se lessem isto.
Ao computador: 82 emails em atraso, 42 notificações no facebook, 2 pedidos de amizade. Regressada à solitária vida no campo e à sociedade, entre a multidão virtual.
À noite...Papa.
À noite...Papa.
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