sábado, 14 de novembro de 2009

Banhos de lua


Sonhei que me banhava num lago lunar. Sem o sol que as iluminasse, as águas eram cor de prata e escorriam pelos meus dedos como gotas de mercúrio. Mergulhada nesse liquido de cinza, com a barriga voltada para o céu de um negro perpétuo, erguia os meus braços e remava, deixando o corpo cortar o espelho prateado. Ao meu redor, só o silêncio. Mudos, os bagos de prata deslizavam pelos meus pulsos, de regresso à túnica argêntea e macia. Ergui-me, enterrando os pés na areia cintilante, que refulgia no meio da escuridão. Cingi o corpo saciado com um véu cor de sangue, que irradiou o calor de que eu carecia, para amornar a pele. Quando despertei e abri os olhos, a brancura dos lençóis quase me ofuscou. O rosto estendia-se ainda num sorriso onírico, pois na memória trazia a consciência de ter flutuado nas águas mudas de uma estrela, cujas areias, que se desprendiam do fundo, eram partículas tão distantes do meu mundo. Ali não havia terra: apenas um mar de prata, a ternura da noite e o meu lenço escarlate.

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