Existir é como ser uma lua. A valsa que nos faz rodopiar pode tornar-nos leves, leves, ou atordoar-nos; pode iluminar o nosso caminho, ou lançar-nos para a escuridão; pode ensinar-nos novos passos, maltratar-nos, ou fazer-nos sentir a embriaguez de um carrossel desgovernado. À nossa volta dançam outros pares, que enfeitam o salão com vestidos de cor diversa, sorrisos sinceros, sorrisos falsos. E é nesse palco que teremos de encontrar o nosso par, aquele que dá um sentido à nossa dança. A mão certa, os passos, o ritmo, o corpo, os olhos. Lá fora, a lua é cúmplice dessa dança que se eterniza, que começa no canto, em quarto crescente, até nos iluminar por dentro, como se houvéssemos engolido a lua cheia e soubéssemos, por fim, para onde vamos. O brilho da prata não é duradouro, e assim nos vemos atirados para o óxido da noite, que nos retira o equilíbrio e quase nos deixa cair. É urgente, então, ficarmos descalços, repousarmos os membros junto dos que nos amparam a queda, respirar fundo e esperar que a luz retorne aos nossos pés.
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