"João Casimiro Namorado de Aguiar escreveu mais de duas dezenas de romances e criou duas séries de televisão destinadas ao público mais jovem - “Sebastião e os Mundos Secretos” e o “Bando dos Quatro”, no qual ele próprio figura na personagem do Tio João.
João Aguiar foi um dos cultores em Portugal do chamado romance histórico, com “A Voz dos Deuses”, publicado em 1984.
João Casimiro Namorado de Aguiar nasceu a 28 de Outubro de 1943 e viveu a infância entre Lisboa - a sua cidade-natal - e a Beira, em Moçambique. A mãe ensinou-o a ler para mantê-lo sossegado na cama, durante um longo período de doença, e de leitor interessado passou rapidamente a aspirante a escritor.
Aos oito anos, tentou ditar um livro de aventuras à irmã Maria João mas o sentido crítico dela arrasou-lhe as pretensões. Insistiu com novas obras que foi deitando para o lixo e teve mesmo um “primeiro” livro que só não viu a luz do dia porque a editora faliu antes. Só depois dos 40 anos publicou o primeiro romance, na Perspetivas & Realidades de João Soares: “A Voz dos Deuses”, uma ficção histórica centrada na figura de Viriato.
Seguiram-se duas dezenas de romances que o levaram a estudar a história mais remota de Portugal - regressou aos primórdios para falar de Sertório e publicou até um trabalho não ficcionado sobre o menino do Lapedo. Viajou para Macau com a ficção para escrever “Os Comedores de Pérolas” e “O Dragão de Fumo”.
Pelo meio, João Aguiar criou duas séries destinadas ao público mais jovem - “Sebastião e os Mundos Secretos” e o “Bando dos Quatro” e fez também o libreto para a ópera “A Orquídea Branca” de Jorge Salgueiro, estreada em 2008.
A doença que veio a provocar-lhe a morte impediu-o de concluir o livro que preparava sobre a revolução de 1383.
João Aguiar frequentou em Lisboa os cursos superiores de Direito e Filosofia mas foi em Bruxelas que se licenciou em Jornalismo, profissão que entretanto tinha começado a exercer. Na Bélgica, fez um pouco de tudo, desde lavar escadas a trabalhar no Turismo de Portugal.
De regresso a Portugal, fez o serviço militar e uma comissão em Angola no sector da acção psicológica, produzindo rádio para as tropas.
Considerou-se sempre jornalista, mesmo passados largos anos desde que abandonara a actividade profissional. Começou pela RTP - onde também coordenou uma série da Rua Sésamo - e passou depois por jornais como "Diário de Notícias", "A Luta", "O País". Fez rádio no Canadá, onde trabalhou com Henrique Mendes.
Dizia-se um “monárquico não tradicionalista”, justificava-o “por uma questão pragmática”. O último romance que publicou - “O Priorado do Cifrão” - era uma “charge” ao mundo criado por Dan Brown.
Numa autobiografia irónica que escreveu para o "Jornal de Letras" em 2005, João Aguiar concluía: “A minha vida não dava um livro, e ainda bem. Em compensação, o facto de os meus livros darem uma vida -- boa ou má, não importa para o caso - , esse facto devo-o, em grande parte, aos momentos de não-glória que acabo de relatar. E estou-lhes muito grato.”
(in Jornal "PÚBLICO", 5ª feira, 3 Junho 2010)
Tive o privilégio de trocar com ele alguma correspondência e de receber, pelo correio, com dedicatória, duas obras dele, que recebi de mãos abertas, feliz e orgulhosa: "O Tigre Sentado" (editado em Macau e muito mal distribuído em Portugal, como o próprio me contou) e "O Priorado do Cifrão", a sua última obra publicada. Jamais esquecerei os seus livros. Irei relê-los, decerto, e descobrir os que não li. Perde-se um imenso escritor que, a meu ver, não teve o reconhecimento que merecia. Vá-se lá saber porquê...e agora é demasiado tarde. Ou não?