"(versos) que falavam da alma das flores, da luz, de amor e união. Nessas semanas, no canto inferior esquerdo da primeira página, lia-se um pensamento profundo, que mais não era do que uma chamada de atenção, um memorando que pretendia tocar a consciência dos insulanos durante as viagens de M., para que eles se dedicassem a meditar um pouco nas coisas positivas, tornando-se mais fortes e confiantes. O feiticeiro sabia que a inteligência deles se rebelava à primeira oportunidade: bastaria abandonar o seu jardim, para logo as ideias agrestes despontarem, cercando os cantos."
Não se deixem enganar pelas riscas cor-de-rosa. Os dias são (d)escritos com todas as cores.
sábado, 29 de agosto de 2009
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Regresso
Voltei. É tempo de correr contra o tempo, cumprir prazos pouco aprazíveis, entesourar as mãos e tesourar aquele que guardo no baú como um tesouro. Beijos para a Matilde, e titios Vasco e Rita. Festinhocas à Zug e à Bix (nada de fugir!). Foi bom. Havemos de repetir a dose.
domingo, 23 de agosto de 2009
silêncio
Caros blogueiros, vou estar sem internet durante uns três ou quatro dias. Peço que me perdoem este silêncio. Até lá, portem-se como quiserem...mas com respeito. Beijos
sábado, 22 de agosto de 2009
Os livros
Os livros nascem como esboços numa aula de desenho. O escritor, com o seu pincel, escolhe com que cores as irá prender, para sempre, à tela branca. Há livros cujas cores não se apagam dos nossos olhos, pois as suas tonalidades vieram, de alguma forma, ao encontro das nossas paisagens interiores, fazendo-nos descobrir algo de verdadeiro, algo que nos enriquece e desperta. É bom acordar nos livros e adormecer na companhia das suas paisagens em fundo virgem.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Sol e doce de abóbora
O segundo dia sem carro, presa a este paraíso bucólico. O meu marido ausente, e eu sempre presente sob os tectos de pinho nórdico da casa, que me enfeita. Dediquei-me a ela durante a manhã, e ao sol durante a tarde. A buzina melódica e nervosa do homem das frutas e hortaliças soou ao cimo da rua, pontualmente: sexta, às seis. Regressávamos, eu, o Hugo e o Chico, da caminhada pelas redondezas. Entrei em casa para buscar a carteira, pois o senhor, ao contrário dos nossos queridos vizinhos, precisa de vender para viver. Comprei maçãs, bananas, alface e um bom pedaço de abóbora. Sem carro e sem manteiga, decidi fazer compota:
1kg de abóbora descascada sem pevides
750gr de açucar amarelo
canela q.b.
raspa da casca de 1 laranja
Uma hora e meia depois, a casa perfumou-se com um aroma doce e caseiro e eu sorri à ideia de amanhã iniciar o dia com um chá earl grey e tostas barradas com doce de abóbora feito por mim. Porque gosto da encontrar a vida assim, nas coisas simples.
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Barbies sem bracinhos
Estava eu na minha missão de Tartaruga Ninja, cortando o meu livro à tesourada, quando a pequena Constança, ao meu lado, me força a um intervalo, para me contar esta curiosidade irresistível: lançaram no mercado uns matraquilhos feitos com barbies. Custam a módica quantia de dez mil euros. Ah, é verdade, e, por enquanto, só estão à venda em Paris. Pffff. Pronto, já sabem o que hão-de dar às vossas filhas este Natal. Pronto, estou a gozar. Ou não. Decidam vocês. Isto está tudo louco. Obrigada Constança, salvaste-me o post de hoje!
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Um dia na quinta
Depois de um salto à praia, seguimos para a quinta de uns amigos, que nos convidaram para um banho de piscina e peixinho grelhado. Depois do banho, apareceu o Serpa, um cãozarrão branco e dengoso, que parecia aparentado dos ursos polares. O Afonso sugeriu ao Hugo que fosse apanhar figos e eu, claro está, fui com ele. Levámos uma cesta, fizemos uma cama de folhas para os aconchegar e apanhámos os frutos que se soltavam dos ramos com uma lágrima de leite. Vi, pela primeira vez, uma nogueira carregada de nozes e espantei-me com o aspecto dos frutos que se escondem dentro de um casulo verde, como as castanhas. Ao lado, entre muitas árvores de fruto, havia romãzeiras. Fomos conhecer a vinha e a casta francesa (cujo nome não recordo, confesso), com os seus cachos de uvas pequeninas tão compactas, que pareciam massarocas de milho. Eram deliciosamente doces. Em contraluz, já o sol se deitava, o Serpa ameaçava subir o monte e escapar-se, para ir namorar outra vez:
- Serpa, anda cá, toma!
E ele vinha, contrariado.
Fomos buscar lenha, para grelhar o peixe. Entrada de queijos deitados em pão saloio e compacto, daquele que faz barulho a cair no estômago. A acompanhar, o vinho branco, verdadeiro néctar, feito pelo Pedro, enólogo de profissão, e filho dos nossos amigos Afonso e Teresa, donos da quinta. Discutiram-se os planos para a exploração da propriedade de 18 hectares, a política do presidente da câmara, e alguns assuntos da actualidade. Rematei o jantar tardio com alguns figos colhidos por nós e um pouco de marmelada caseira. Quando demos pelas horas, eram três da manhã.
Viemos embora com uma enorme saca de batatas e com os figos, claro.
Obrigada, Teresa e Afonso, e parabéns pela escritura!
- Serpa, anda cá, toma!
E ele vinha, contrariado.
Fomos buscar lenha, para grelhar o peixe. Entrada de queijos deitados em pão saloio e compacto, daquele que faz barulho a cair no estômago. A acompanhar, o vinho branco, verdadeiro néctar, feito pelo Pedro, enólogo de profissão, e filho dos nossos amigos Afonso e Teresa, donos da quinta. Discutiram-se os planos para a exploração da propriedade de 18 hectares, a política do presidente da câmara, e alguns assuntos da actualidade. Rematei o jantar tardio com alguns figos colhidos por nós e um pouco de marmelada caseira. Quando demos pelas horas, eram três da manhã.
Viemos embora com uma enorme saca de batatas e com os figos, claro.
Obrigada, Teresa e Afonso, e parabéns pela escritura!
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Chico Esperto
O dia começou com a nossa campaínha a tocar insistentemente. Eram sete a tal da manhã. Fomos à janela e não vimos ninguém. Ò Diabo, o que era aquilo? Do terraço, olhando para cima, os cães ladravam-nos, como quem diz: "vocês aí, já que estão a pé, deixem-nos entrar!"
Quando fomos lá fora, o meu marido reparou no botão da campaínha e na área circundante da parede: tinham marcas de terra, sob a forma de patas caninas. Estava esclarecido o mistério: quem tocou à campaínha, foi o Chico, que é, por enquanto, o mais alto! E esta, hein?
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Subtilezas da cultura
O meu filho chegou de NY este fim de semana e hoje contou-me algumas das experiênvias pelas quais passou nestas 3 semanas. Tudo fantástico, tudo maravilhoso... ou quase. Certo dia, ele e o primo saíram com duas meninas de idade aproximada à deles (também "teens") e às tantas perguntaram-lhes: "vocês têm televisão...?". Das duas, uma: ou eram mesmo burras, ou nós somos tão insignificantes no mapa-mundi, que a ideia que os americanos têm de nós é a da que vivemos no século XIX. Não, não, deviam ser mesmo de inteligência escassa, pois quando uma delas arrotou e o Sebastião, muito diplomata, a desculpou dizendo, a título de curiosidade, que na cultura marroquina o arroto é considerado sinal de satisfação à mesa, e mesmo de boa-educação, acusaram-no logo de ser "nerd". Ya, seria muito mais "cool" ele desatar a arrotar também e fazerem concursos de arrotos. Aí sim, seriam considerados interessantíssimos e muito recomendáveis. Não há pachorra.
domingo, 16 de agosto de 2009
sábado, 15 de agosto de 2009
Crónica de Alice Vieira
Como discordo deste excesso de informação e de alarmismo em que vivemos hoje, não resisto a publicar aqui a crónica da minha amiga Alice Vieira, que saíu hoje no Jornal de Notícias:
"A minha quase gripe
00h00m
Com esta paranóia da gripe, qualquer ponta de febre que se tenha nos parece de imediato os 40 graus que é suposto a gente ter quando ela ataca. Até eu - que me gabo de não me deixar influenciar- vi-me um dia destes, às quatro da madrugada (mas sem passarinhos a cantar) a ligar para a Linha-24, convencida de que ia engrossar as estatísticas. Porque, com as rádios e as televisões a divulgarem constantemente os casos que vão aparecendo - e é mais um nos Açores, e mais três no Algarve, e a creche que fechou e a que vai fechar - a gente de repente tem a certeza de que a gripe já entrou na nossa casa, ó para ela a subir as escadas do nosso prédio, e agora é a vizinha do 1.º, depois a do 2.º, e de nada vale a gente tentar ser racional e pensar que não é possível porque está tudo de férias e não há ninguém no nosso prédio.
Então lá estava eu ao telefone a debitar os meus sintomas, e a enfermeira (cujo nome não recordo, com muita pena, porque aquela conversa foi das poucas coisas boas que me aconteceram nestes últimos tempos) a acalmar-me, sobretudo porque a todas as perguntas que me ia fazendo, eu ia respondendo que não: não, não tenho dores de garganta, não, não tenho o nariz a pingar - e, sobretudo, não, não tenho febre.Foi então que a enfermeira, com paciência evangélica, me disse uma frase que há-de ficar para todo o sempre na galeria das frases que mais marcaram a minha vida: "nem todas as gripes são gripe A; nem todas as viroses são gripe" E ,se calhar porque já não sabia que mais dizer, perguntou : "Por acaso esteve ontem com muita gente?" Tive de confessar que tinha estado rodeada de meia Lisboa, aos abraços e beijos a meia Lisboa, a chorar nos braços de meia Lisboa, e que um enterro de um amigo não é lugar ideal para se fugir de contágios.
De qualquer maneira a enfermeira garantia que, se fosse mesmo gripe A, a febre já estaria a trepar pelo termómetro e não se ficaria pelos míseros 36.5, que era o máximo que eu conseguia atingir. Mas ela era rigorosa (ó que bom, haver neste país alguma coisa que funciona bem, mesmo às quatro da madrugada!), e perguntou: "Tem feito muitos esforços ultimamente?"
Explico-lhe o que tem sido o meu ritmo de vida nos últimos meses e ela acaba por descobrir o que realmente determina aquele terrível cansaço, aquelas terríveis dores no corpo todo: "o que a senhora está é cansada!" E de repente a voz do meu querido amigo Raul salta para o meio da nossa conversa, naquela sua magnífica "Ida ao Médico" ("Tussa! O que o senhor tem é tosse!"), e os ben-u-rons ficam à espera de serem necessários, e a paranóia acalma, e a madrugada enche-se de gargalhadas e, pelo menos por enquanto, a gripe ainda não entrou no meu prédio. Acho que tem medo de gargalhadas."
00h00m
Com esta paranóia da gripe, qualquer ponta de febre que se tenha nos parece de imediato os 40 graus que é suposto a gente ter quando ela ataca. Até eu - que me gabo de não me deixar influenciar- vi-me um dia destes, às quatro da madrugada (mas sem passarinhos a cantar) a ligar para a Linha-24, convencida de que ia engrossar as estatísticas. Porque, com as rádios e as televisões a divulgarem constantemente os casos que vão aparecendo - e é mais um nos Açores, e mais três no Algarve, e a creche que fechou e a que vai fechar - a gente de repente tem a certeza de que a gripe já entrou na nossa casa, ó para ela a subir as escadas do nosso prédio, e agora é a vizinha do 1.º, depois a do 2.º, e de nada vale a gente tentar ser racional e pensar que não é possível porque está tudo de férias e não há ninguém no nosso prédio.
Então lá estava eu ao telefone a debitar os meus sintomas, e a enfermeira (cujo nome não recordo, com muita pena, porque aquela conversa foi das poucas coisas boas que me aconteceram nestes últimos tempos) a acalmar-me, sobretudo porque a todas as perguntas que me ia fazendo, eu ia respondendo que não: não, não tenho dores de garganta, não, não tenho o nariz a pingar - e, sobretudo, não, não tenho febre.Foi então que a enfermeira, com paciência evangélica, me disse uma frase que há-de ficar para todo o sempre na galeria das frases que mais marcaram a minha vida: "nem todas as gripes são gripe A; nem todas as viroses são gripe" E ,se calhar porque já não sabia que mais dizer, perguntou : "Por acaso esteve ontem com muita gente?" Tive de confessar que tinha estado rodeada de meia Lisboa, aos abraços e beijos a meia Lisboa, a chorar nos braços de meia Lisboa, e que um enterro de um amigo não é lugar ideal para se fugir de contágios.
De qualquer maneira a enfermeira garantia que, se fosse mesmo gripe A, a febre já estaria a trepar pelo termómetro e não se ficaria pelos míseros 36.5, que era o máximo que eu conseguia atingir. Mas ela era rigorosa (ó que bom, haver neste país alguma coisa que funciona bem, mesmo às quatro da madrugada!), e perguntou: "Tem feito muitos esforços ultimamente?"
Explico-lhe o que tem sido o meu ritmo de vida nos últimos meses e ela acaba por descobrir o que realmente determina aquele terrível cansaço, aquelas terríveis dores no corpo todo: "o que a senhora está é cansada!" E de repente a voz do meu querido amigo Raul salta para o meio da nossa conversa, naquela sua magnífica "Ida ao Médico" ("Tussa! O que o senhor tem é tosse!"), e os ben-u-rons ficam à espera de serem necessários, e a paranóia acalma, e a madrugada enche-se de gargalhadas e, pelo menos por enquanto, a gripe ainda não entrou no meu prédio. Acho que tem medo de gargalhadas."
(ALICE VIEIRA, IN "Jornal de Notícias")
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Missão Impossível
Estou numa corrida contra o tempo, que se escapa por entre o sol, os amigos que chegam, os caprichos dos cães, a minha preguiça, as tarefas domésticas e coisas ainda menos interessantes. Disponho de duas semanas para cortar 144 mil caracteres e o meu filho chega de NY neste fim de semana e tenho estas saudades todas para matar. Socorro, parece-me uma Missão Impossível. Fica aqui o video do esquilo, para descontrair. É como me sinto.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
O mercado veio à nossa casa
Está uma pessoa a trabalhar, muito concentrada, e os cães ladram. Aparecem duas crianças bem educadas e gentis, que já conhecemos bem, e que nos enfeitam a casa com a sua simpatia de sempre. São netas de uns vizinhos nossos e trazem oferendas agrícolas. Vem tudo numa cesta de verga: pêssegos, beringelas, tomate, nabos, nabiças, malaguetas. Assim, de oferta, só por sermos amigos. Que se quisermos ou precisarmos de mais alguma coisa (alfaces, peras, uvas...), é só aparecer. Entretanto, a Bé diz que vai começar a fazer compotas de fruta para o Natal e não só, já se sabe. Na brincadeira, diz que já chamam à casa "Herdade do Segredo", e bem merece o título.Ah, os prazeres da vida no campo...!
Volto ao trabalho com as mãos perfumadas e os olhos cheios de cores da terra. Obrigada à Bé e ao Zé Manel. Obrigada ao Tomás e à Constança, pelo serviço de entrega. É bom ter vizinhos assim!
(FOTO: tirada pelos próprios, e enviada por email, em jeito de publicidade)
Volto ao trabalho com as mãos perfumadas e os olhos cheios de cores da terra. Obrigada à Bé e ao Zé Manel. Obrigada ao Tomás e à Constança, pelo serviço de entrega. É bom ter vizinhos assim!
(FOTO: tirada pelos próprios, e enviada por email, em jeito de publicidade)
PARABÉNS AO MICAS, QUE ESTÁ EM NY, E QUE HOJE FAZ 10 ANOS! BEIJOS DOS TIOS VERA E NANÃ!
(FOTO: in locco, com o meu filhote, hoje mesmo. Viva a tecnologia!)
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
A consciência à perna
O sol, esse cúmplice da minha preguiça, não teve raios a medir. Eu a insistir com ele, que não podia ser, que tinha a consciência à perna, a mandar-me para o computador trabalhar na edição do livro, e ele a insistir, sedutor, implacável. Venceu-me. Fechei a consciência num quarto escuro e fugi na sua direcção. O nosso amigo Zé esperava-nos, cúmplice do sol, ele também, de sardinhas de um lado e uma dourada do outro (para mim). Dourei-me por fora e por dentro, depois de um pouco de salmão fumado e espumante. Passámos ao vinho branco ("Uvas Douradas", um verdadeiro complot) e concluímos o repasto com uma fatia de gelado e outra de hapfelstrudel e café. Pedi licença ao corpo para o mergulhar lentamente na água azul-turquesa, a 26 graus, e ele consentiu.
Chega, oiço a consciência prestes a arrombar a porta.
São horas de libertá-la e de fechar a preguiça à chave, agora tu, para aprenderes. Mãos à obra, de espada na mão, de regresso à missão de tartaruga ninja: cortar os cerca de 100.000 caracteres que ainda faltam para cumprir o objectivo. É importante termos objectivos e, já agora, cumpri-los.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Encontros inesperados
Neste dia de verão perfeito, em que o calendário cumpriu a rigor a sua função, aproveitámos para ir à praia. Demos com um velho colega das lides musicais, que ia acompanhado das filhas (lindas! Umas queridas!) e depois de uma amena cavaqueira banhada pelo sol e pela maresia, combinámos umas bebidas refrescantes na nossa casa. Tiraram-se fotos, petiscou-se, bebeu-se. A Luz, com 9 anos, apaixonou-se pelo Gastão. Sentada ao meu lado no baloiço, com o Gastão ao colo, teve esta conversa:
- Sabes, o meu pai vai ter de combinar jantar em qualquer lado...
- Pois é... (sorriso meu)
- Vocês também vão jantar, não é?
- Sim, claro. Queres jantar cá?
- Quero! Tens de perguntar ao meu pai, mas é que eu não me quero separar do Gastão!
A franqueza desarmante das crianças, o talento para irem directamente até à Casa da Partida, sem receber dois contos, ou seja, sem passarem pelo filtro social. Ficaram. Jantaram. Comemos e bebemos outra vez, à luz das lamparinas e ao som dos grilos. Rimos, trocámos histórias, o encontro prolongou-se até à velocidade da Luz (a mais nova, que tem de deitar-se cedo) e despedimo-nos satisfeitos. Nunca é de mais repetir: é bom receber os amigos.
Beijinhos ao Luis Pedro, à Maria e à Luz. Felicidades para esta família de artistas.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
workshop de fotografia
Photo by: Nanã Sousa Dias
http://www.facebook.com/home.php#/profile.php?id=1015105553
Estão abertas as inscrições para um workshop de fotografia com NANÃ SOUSA DIAS, para os próximos dias 15 e 16, na zona da Ericeira. Aproveitem, inscrevam-se ou passem palavra aos interessados.
Para mais informações, vão ao link abaixo. Boas fotos!
http://www.facebook.com/home.php#/profile.php?id=1015105553
domingo, 9 de agosto de 2009
O fim da festa
Ontem encerrei os festejos dos 40 anos rodeada pela minha família. Apesar de algumas ausências, foi divertido, comeu-se e bebeu-se bem, as oferendas foram maravilhosas e o tempo, se bem que um pouco ameaçador, só nos deu uma rosnadela, sem chegar a morder. Seria lindo, 22 pessoas na nossa sala... A fotografia de grupo virá em breve, prometo.
Depois de todos partirem, pusemos a casa em ordem, fizemos um último brinde com um excelente rosé, vimos "A Vida de Uma Abelha" do Seinfeld e um filme sobre a vida do trompetista cubano Arturo Sandoval (Andy Garcia) e acho que desmaiei no sofá, para só acordar às 3.40 da manhã. Como diz o Chico, foi bonita a festa, pá.
Obrigada a todos por terem vindo.
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
Entrei nos "entas"
Hoje guardei a pena na gaveta. Estou agarrada a responsabilidades mundanas, como organizar um almoço para 22 pessoas, que acontece amanhã. Ontem completei quarenta anos.
40
O número é maior do que eu, mas vamos ter de encontrar uma forma de convivermos juntos, dentro de mim.
O meu filhote, a P. o Sacho e o Micas ligaram-me duas vezes de NY, a cantar-me os parabéns: à hora de lá e à hora de cá. É uma boa sensação.
Obrigada pelos parabéns de todos!
Foi bom ter a família a almoçar cá em casa ontem, bem como o jantarinho original e animado no Campo de Santana (parabéns Rita, minha colega de aniversário!). Amanhã encerram-se os festejos cá em casa, com a outra parte da família, por isso tenho de fugir daqui, ir comprar mantimentos e agarrar-me aos tachos. Já fui.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Tatuagem
Há palavras, memórias e sentimentos que ficam como que congelados, a sobrevoar os efeitos do tempo, com orgulho, imunizados pela força de terem tido vida própria nos dias em que éramos jovens. Nunca mais se vivem dias assim. Crescemos, transformamo-nos, a vida dá-nos outro olhar sobre o presente, enquanto o passado fica aninhado na pessoa que éramos, como uma tatuagem, que se agarra à pele.
/
CHICO BUARQUE - RUY GUERRA, 1973)
Quero ficar no teu corpo feito tatuagem
Que é pra te dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem
E também pra me perpetuar em tua escrava
Que você pega, esfrega, nega
Mas não lava
/
Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço
/
Quero pesar feito cruz nas tuas costas
Que te retalha em postas
Mas no fundo gostas
Quando a noite vem
Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva
Marcada a frio, e ferro e fogo
Em carne viva
/
Corações de mãe
Arpões, sereias e serpentes
Que te rabiscam o corpo todo
Mas não sentes.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Um encontro com o sol
Hoje encontrei-me com o sol. Estendemo-nos os dois, eu sobre a toalha cor-de-rosa, ele sobre mim. Ao longo de várias horas, foi-me escrevendo na pele, narrando-se em ondas de calor. Eu escutei-o, tentando não perder aquelas palavras feitas de luz. Virei as minhas páginas, para me tornar num livro dourado. O corpo pediu uma pausa e eu acedi, cerrando os olhos da pele. A água fria meteu-se no meio, a apaziguar-nos os excessos, devolvendo-me ao corpo a temperatura. Os cabelos aclararam, a pele amorenou-se, como se o sol desejasse transformar-me num negativo de mim própria, invertendo-me as cores. O encontro terminou quando ele, esgotado, se foi retirando de mim, para esconder os raios mornos entre a folhagem dos pinheiros. Disse-lhe adeus, com um lamento. Marcámos novo encontro para amanhã. Será que ele vai comparecer?
domingo, 2 de agosto de 2009
Cesto de papéis V
"Como crianças, os ilhéus filosofavam, transformados em grandes devoradores de perguntas. Na vida quase perfeita que haviam levado até ali, jamais tinham sido tocados pelo sofrimento a que estava sujeito o Outro Mundo, tão defeituoso. As advertências gritadas por E. e M. de pouco ou nada serviram (...). Onde quer que estivessem, e fosse qual fosse a tarefa que tinham em mãos, as almas alimentavam-se de cores tão vivas e puras, que inventavam a sua própria receita para a felicidade. Os factores externos da existência eram meros pormenores. A vida de cada um era um eco da sua maneira de estar e esta, por sua vez, um reflexo do que lhes ia no coração. "
sábado, 1 de agosto de 2009
Cesto de papéis IV
Com a chegada da chuva, que remédio senão trabalhar. A vida lá fora ficou literalmente "de molho". Retomei, pois, o trabalho de tesouradas (tesouraria?).
Aqui fica um retalho:
"Depois havia um novo conceito que constituíra uma revelação para os ilhéus e no qual Grimela pensava às vezes: além de nomes, os mutantes acumulavam e contabilizavam os anos e as estações, para não perderem a conta à “idade”.
Dividiam-na por escalões e, consoante aquele a que pertenciam, podiam usufruir de certas vantagens, ou, pelo contrário, ficar limitados por ela: o acesso a certos lugares podia ser-lhes vedado: se um jovem não possuísse um total de dezoito anos de experiência no mundo (mesmo que fosse muito bem comportado), as autoridades desses lugares não o deixavam entrar e essa era uma das razões porque os jovens tinham pressa de crescer. Quando já estavam no escalão adulto há muito tempo, começavam a murchar e então eram chamados de “velhos”; mas como essa designação era sinal de desrespeito, referiam-se a eles como “os de terceira idade”, os “idosos”, ou ainda “gente já de certa idade” (subentendendo-se que certa queria dizer muita."
Dividiam-na por escalões e, consoante aquele a que pertenciam, podiam usufruir de certas vantagens, ou, pelo contrário, ficar limitados por ela: o acesso a certos lugares podia ser-lhes vedado: se um jovem não possuísse um total de dezoito anos de experiência no mundo (mesmo que fosse muito bem comportado), as autoridades desses lugares não o deixavam entrar e essa era uma das razões porque os jovens tinham pressa de crescer. Quando já estavam no escalão adulto há muito tempo, começavam a murchar e então eram chamados de “velhos”; mas como essa designação era sinal de desrespeito, referiam-se a eles como “os de terceira idade”, os “idosos”, ou ainda “gente já de certa idade” (subentendendo-se que certa queria dizer muita."
Subscrever:
Mensagens (Atom)