domingo, 30 de dezembro de 2012

2012 em imagens

Agora que estamos prestes a despedir-nos de 2012, aqui fica um conjunto de excelentes imagens que nos fazem sorrir, muitas delas com tristeza, soltando suspiros. poderia ter sido melhor? Sim, bem melhor. Foi o que foi...e muito bem captado.
Agência Lusa Imagens 2012

sábado, 29 de dezembro de 2012

viagem

Nas últimas semanas fui a Cuba, ao Egipto, à Escócia, Índia, Jamaica, Malásia e Maldivas. Sim, tenho-me fartado de passear, graças a deus. É a vantagem de fazer revisão de texto ligada a narrativa de viagens...desde ontem que ando por aqui, na Polinésia Francesa. Não se está mal.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Filosofices VII

Se eu voltasse a ser uma criança, havia de querer fazer uma série de perguntas que na altura não me ocorreram. Agora que sou crescida, até parece mal, mas mal que pergunte...

"Amador" e "amadora" quer dizer "o que ama", certo? Então e se eu amar a minha profissão, posso dizer que sou uma profissional amadora? Uma...amadora profissional...?

Se "apartar" significa "afastar" ou "separar" quer dizer que quem vive num apartamento vive separado? Então e dizer que "vivem juntos num apartamento" não é confuso?


Os verbos parar, partir e parir baralham-me muito. Se eu quiser usar estes três verbos numa frase torna-se confuso, querem ver?

Eu partirei eu busca de aventuras, partirei um prato e parirei um filho.
Um parto, não páro, entre partos.
Eu paro sem parar, apartando a paragem.
Eu páro e parada, pronta para parir antes de partir, partidas àparte, paro, mas vou parar de parir para poder partir. percebem o que quero dizer? É complicado...

Porquê “cor de rosa”, se há rosas brancas, amarelas e vermelhas?
E porque é que chamam lagarta à lagarta, se ela não é a mulher do lagarto? E a lagartixa, por acaso é filha da lagarta e do lagarto? Não é, não senhor!

Pronto, isto era o que eu perguntava se fosse criança, mas agora sou crescida, já não dá.

(pesquise em "Filosofices", para mais)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Ericeira

© Nanã Sousa Dias
Há dois dias fechada em casa, aceitei o convite para ir beber um cafezinho à Ericeira. A esplanada sobre o mar quase cheia, nesta tarde de sol invernoso. Inúmeros casais fazendo jogging ou passeando-se com cães e crianças de carrinho, putos atravessando de skate o pavimento de madeira, gaivotas planando sobre as nossas cabeças, a fazer-nos inveja. Não fosse o sol sem calor, nestes últimos dias do ano, pareceria uma tarde de verão. Há uma atmosfera estranha que confirma o fim de algo indefinível. A luz, esta luminosidade espantosa que o Nanã captou ao poente, dá-nos, no entanto, uma certa paz, quase beatitude. A perfeição é feita de pequenas coisas.   

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Simfonias e sintonias


Ontem, depois de um pequeno almoço tardio, estreei uma chávena natalícia com café bem forte e fui caminhar. O lugar onde moro é assim, como o desta imagem, a estrada de Dezembro por onde caminho encontra-se orlada de azedas vindas da chuva, a paisagem clorofilina está salpicada de casinhotas e flores silvestres. Os caixotes de lixo quase não têm cheiro, ficaram hoje apinhados de caixas e papeis de embrulho festivos, pontas lustrosas de laçarotes penduradas, como que despedindo-se da festa. Passo por modestos rebanhos de automóveis junto às casas anfitriãs, por gente encostada à ombreira das portas, que ainda me deseja "boas festas!", consolada com a noite da Consoada, a dar continuação ao festim da noite anterior. Adivinho as decorações da época, as travessas compostas com as sobras, mais um prato de cabrito ou de bacalhau a estrear, os fornos ainda quentes, os bolos e tortas, as fatias douradas e filhoses já frias, a toalha de renda com nódoas de vinho tinto e de licores.
Na estrada, o silêncio. Conto apenas cinco automóveis, que passam por mim mansamente, com o ronronar dos  seus motores. Caminho acompanhada pelo Sting e a Orquestra Filarmónica de Berlim, o álbum "Symphonicities". Ao som de "When We Dance", escuto um galo que canta preguiçoso à minha passagem, a mostrar serviço. Nem os cães ladram, com a indolência da ressaca. Como realizadores, os meus olhos redescobrem a paisagem, confortados pela ternura do sol. A orquestra nos meus ouvidos, generosa em instrumentos de corda e percussão, trompas, flautas e oboés soprando em surdina, transforma-se na banda sonora deste meu filme campestre, que poderia ter acontecido num palmo de terra irlandesa, como o da avó paterna de Sting.
      
Chego a casa em sintomia perfeita escutando "The Pirate's Bride", o tema que encerra o álbum.


terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Rhema Marvanne

Gosto sempre de descobrir vozes surpreendentes e que me toquem no fundo do peito. Nos últimos 2 Natais partilhei aqui convosco o "First Noel" cantado por um adolescente, gravado por ele em multi-pistas, a cappella. Adoro aquilo! Este ano, deixo-vos com uma menina que tem 7 anos (sim, 7!) e canta ASSIM!!!!!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Eartha Kitt

Escolhi este video por causa da distância a que está de tudo: dos dias de hoje, das nossas urgências, do nosso futuro. Um video que se arruma tão longe, tão longe, que é quase o canto do cisne, o encerrar de um capítulo que inaugura um outro. Não é de descapotáveis, roupas novas, jóias ou cheques que precisamos, como sabem. E por isso ele é irresistível, bizarro, cómico. E muito a propósito, por toda a nostalgia que encerra.
FELIZ NATAL A TODOS, que vos seja leve, com o que mais importa.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Les Intouchables

Dia cinzento lá fora, dedicado a limpezas e arrumações, alguma revisão de texto e, claro, usufruir da companhia preciosa do meu filhote. Dedicámos parte da tarde a ver o filme “Les intouchables” ("Amigos Improváveis"). Excelente, dou-lhe todas as estrelas que tenho, porque ele tem tudo, do drama à comédia, toca-nos profundamente. Argumento muito bom (Olivier Nakache e Eric Toledano, ambos também os realizadores do filme), actuações admiráveis de ambos os protagonistas (François Cluset e Omar Sy). 
Baseado num caso verídico, este filme conta a história de amizade entre um aristocrata milionário paraplégico e um ex-presidiário (de raça branca na realidade, mas aqui interpretado por um belo senegalês), cujos serviços amadores são contratados à experiência. É impossível resistir. Um filme inspirador.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Novo Mundo

Assistindo ao nascimento do Novo Mundo. 
Porque não assim?
Bom fim de semana, sim?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Fim do mundo


Carta de uma dona de casa inconsciente:

Exmo. Sr. Fim do Mundo:

Bom, parece que isto acaba amanhã, 21/12/12.
Então...adeus. 
Gostei muito deste bocadinho. Quero dizer, houve alguns bocadinhos de que gostei só assim-assim. Outros mesmo nada, nada.
Dê-me aí uma ajudinha, porque não sei lá muito bem o que fazer nestas ocasiões. 

Deixa ver...
Ver se me lembro de tirar a roupa da corda e os frescos do frigorífico, para não estragar. E conferir que não ficou nada ao lume nem radiadores acesos ou torneiras a pingar. É preciso poupar, já se sabe. Não, espera, estou a pensar nas contas...já não vou ter que pagar contas! Nem a prestação da casa! Olha que fixe. Bem, até parece que ia conseguir pagá-la, tá bem, tá. Assim até dá a ideia que a coisa ia, ninguém vai saber. Melhor, não passo vergonhas. 
Então...e as cartas do IRS e da Segurança Social, que tão simpaticamente fizeram questão de me enviar, neste mês de Dezembro? Como é que ficam? Deito-as fora, não me preocupo mais com aquilo...? As ameaças pareciam sérias... irão eles penhorar-me a morte? Será que tiveram em conta o fim do mundo quando mas enviaram? E os cães, com quem é que deixo? Com a vizinha não, que tem andado para o constipadita. E ainda por cima é uma parva, sempre a dizer para eu não deixar os cães fugir para o quintal dela. Nah. Olha, solto-os. Ficam para aí todos felizes, a comer restos, a saltitar entre os destroços. 
Deixa ver mais...ehhh...
O correio! Olha, peço para encaminharem para casa dos meus pais, que o fim do mundo não chega lá. No fim do mundo já vivem eles há que tempos e ainda cá estão, graças a deus.
E o lixo? Não me posso esquecer de despejar o lixo e ir ao ecoponto levar este montão de garrafas. É preciso deixar as coisas mais ou menos em ordem, para quando o mundo puder recomeçar. 
........ hmmm......
Bolas, acabei por não emoldurar aquelas fotografias e o muro lá de fora, olha, fica por pintar...isto de adiar indefinidamente tem este problema.

Bom, então até uma próxima oportunidade!

P.S. Ah, já agora, o senhor podia-me dizer a que horas é que começa o evento? É que sabe, dava-me jeito ter a manhã livre...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Vila Nova de Milfontes

Quatro dias aqui, vistos pelos olhos (e máquina) do meu marido. 
Sábado e domingo em modo de "trabalho", cantando reportório de natal com o Nanã, o Manel Jorge e a Elsie: crianças a correr, as mesas cheias, os copos que tilintam,  a troca de presentes, o riso, as conversas animadas pelo esvaziar de muitas garrafas de branco e tinto. 
O resto do Domingo, segunda-feira e terça foram consumidos com o espírito do lazer: leitura (Inês Pedrosa, Dentro de ti ver o mar), passeios pedestres, refeições bem servidas, um jantar oferecido no restaurante "Conversas com o Sal", que recomendo vivamente (salmão com molho de maracujá, bife  de lombo com molho roquefort e lombo com vinho tinto e ervas aromáticas).
Foram dias abençoados sem noticiários, sem a realidade de todos os dias. E ficou apalavrado um regresso em janeiro, olha que sorte. É bom podermos dar, como moeda de troca, aquilo que sabemos fazer. É talvez a única forma de usufruir de uma espécie de férias. O que já não é nada mau. Nada mesmo. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

ups

Data curiosa, a de hoje.

12-12-12

E olhem, estava equivocada. Afinal, parece que o fim do mundo é só a 21. Ups.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Adeus, Sr. Niemeyer

«A Humanidade precisa de sonhos para suportar a miséria; nem que seja por um instante.»

«Não é a linha reta, dura e inflexível, feita pelo homem, que me atrai. O que me chama a atenção é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, nas margens dos seus rios, nas nuvens do céu e nas ondas do mar. O universo está cheio de curvas, um universo de Einstein.»


«Às vezes, você tem de botar a razão de lado e fazer uma coisa bonita.
»

"Estou me lixandro para o cliente."

(OSCAR NIEMEYER)

Tendo em conta a última frase, não posso deixar de pensar que o espantoso está precisamente aí: pensar fora da caixa, sem se preocupar com o que os outros irão pensar, fazendo aquilo que sai do seu imenso talento. Não é para todos, mas ainda bem que assim foi, ou não teria deixado obras como estas:




quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Prémios Literários

Prémios Fernando Namora e Agustina Bessa-Luís entregues hoje a Gonçalo M. Tavares e Tiago Patrício. A obra premiada de Gonçalo M. Tavares foi "Uma Viagem à Índia", tendo o júri destacado "a maneira inovadora como o autor explora as relações entre a forma romance e a matriz épica, bem como a hábil trama narrativa e a estruturação da ação". Tiago Patrício venceu com o romance "Trás-os-Montes", tendo o júri salientado "as qualidades de escrita reportadas à dureza de um universo infantil numa aldeia de Trás-os-Montes, e à maneira como o estilo narrativo encontra uma sugestiva economia na expressão e comportamentos das personagens".
Ambos os prémios são no valor de 25 mil euros. 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Era uma vez...

...depois crescemos, desiludidos, e vamos azedando, expulsando a criança que há em nós.
...depois choramos a criança perdida, ansiando por recuperar o sonho e a própria capacidade de sonhar
...depois geramos as nossas próprias crianças, que geram as suas próprias crianças
...depois pomos os sobrinhos, os filhos, os netos ao colo e, com um livro nas mãos, sonhamos com eles:
"Era uma vez..."
E só então somos capazes de ser crianças outra vez.
Para a Maria.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Impossíveis

Porque é preciso acreditarmos em impossíveis.
Deixem carregar, vejam até ao fim e deliciem-se. Vale a pena! São 7 minutos de magia pura, na fachada da loja LG Optimus, em Berlim.

sábado, 24 de novembro de 2012

Gratidão

Porque infelizmente tendemos a esquecer o mais simples, que a vida vos inspire, sempre :)

Filho

Parabéns, filhote, continuas a ser a melhor coisa que me aconteceu. Daqui a um ano certinho atinges a maioridade. Dá para acreditar? Para mim hás-de ser sempre assim, nos meus braços.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Até quando?

Mau...
É a balança da cozinha que fica sem pilha, antes de eu fazer biscoitos: sei lá eu onde encontro uma pilha daquelas, que parece uma moeda de 1 euro. 

É o radiador a óleo que morre, sem aviso; agora que apetece um quarto morno antes de deitar. É deitar num quarto frio, até.

É a torneira do duche que avaria e que precisa de ser substituída; toca a tomar duche na casa de banho do rés do chão, até.

É o forno que avaria e que parece estar em auto-gestão, ignorando programas e instruções; agora que chegou o frio e apetece usá-lo. E assim irá manter-se, até.

É o chão de tijoleira da sala que levanta, devido às águas da chuva que se infiltram; o chão da minha sala tem agora uma bolha de tijolo e sabe-se lá se não decide piorar. E assim ficará, até.

Podiam ser problemas piores? Podiam. Mas para serem assim, mesquinhos, não podiam ter-se enfiado num buraco, bem longe, e deixado ficar? Assim, já chateia.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Vidas


Não me digas a verdade, não ma recordes. Hoje eu sei, juro-te que sei, pois o tempo também passou por mim. Tardou, mas passou. Estavas a ver que eu nunca mais crescia! Pudera, não tínhamos tempo. É preciso muito maior quantidade de tempo para crescer.
Agora tenho imenso tempo. Sou uma ilha rodeada de tempo por todos os lados. Dizem que a vida é curta, mas não é verdade. A vida dura uma eternidade. Temos tempo para demolir todas as nossas certezas, para perdermos o chão muitas vezes, para vivermos várias vidas. 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Parabéns, José

José Saramago faria hoje 90 anos de idade. Para festejar a data,  comprei uma edição recente d' O Ano da Morte de Ricardo Reis, livro que li emprestado há muitos anos e que ainda não tinha.
Parabéns, querido José. Por aqui, continuamos a celebrá-lo através da herança generosa que nos deixou.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Microficções


O que me saíu em mais um desafio de Escrita Criativa (máx. 150 caracteres, em cerca de 40 minutos, com pausa para cafezinho)
Tema: O homem da horta urbana

1.
Mudo, S. Peach compôs 1 horta de palavras. Aos cantos, adubou gritos; em vasos, o sangue dos discursos mais fluidos; em estufas o calor de aplausos. Tornou-se líder e salvou a urbe.

2.
O mago enlouquecera: da sua horta saíam cenouras de açúcar, beringelas de amora, coentros de cacau, aipos de mel...só dava para pratos agridoces. O povo já andava enjoado.

3.
Cansado de tanto desânimo, o druida pegou na foice e plantou rebentos de visões, sementes de dinamismo e bolbos de ventura. A urbe explodiu em produtividade e a economia cresceu.

4.
- Mas mataram-no porquê?
- Para lhe sacarem a galinha.

Ao plantar a sua horta, Gastão, o Sortudo, acertara em feijões mágicos, subira o caule e trouxera a galinha dos ovos de ouro.


EXPERIMENTEM! É TERAPÊUTICO :)

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A MINHA PRÓXIMA OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA

Considerem-se convidados! :)
Para quaisquer informações adicionais e para efectivar a vossa inscrição, por favor contactem-me para o email incluído neste cartaz. Metade das vagas já estão preenchidas :)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pessoa

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada. 

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(...)
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. 


(ÁLVARO DE CAMPOS, excertos de "Tabacaria", 15 de Janeiro 1928) Para ler todo o poema, vão aqui a  
Pessoa de A a Z

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Casa da Lua

Faz hoje 6 anos que nos mudámos para a CASA DA LUA. Aqui, uma amostra das quatro  estações neste pequeno paraíso, com o filho Hugo (o Gastão ao colo, ainda cachorro) e os primos Micas e Sebastião.
 



domingo, 4 de novembro de 2012

Dédalo

                                                                                            Jacek Yerka

Dédalo
É agora, ébria de mim
O momento de ser eu
Sem erro nem desvio
Sem destilar
                 a
                     minha
                             dor

Ser eu, mais ninguém
A morder a mágoa de mim mesma
Sem cinto nem travão
No impulso etéreo
Que me
            leve
                aonde
                        for

É agora que choro, sem crosta nem escudo
Que verei quem se encontra
                                                 em
                                                    mim

Onde estou eu, quando me revelo?
Por onde vai o meu ser verdadeiro?
Sem firmeza, sem crença
Denúncia ou enleio
Para onde vou,
                        enquanto
                                  caio?

Um cintilar diminuto, entre o brilho das estrelas
Sombra, suspiro, um encolher de ombros
Que me apaga
Onde estou eu quando entro em mim?
Porque me apago, se
                                de
                                    mim
                                          saio?

Pudera eu iluminar-me
Sair do dédalo que inventei
Por onde sempre andei
E mais
          e
          mais
                 desconheço

Ainda sou
Um desperdício dilatando-se
Um lamento demorado
No exterior das minhas sobras
Se vivo na réstia das noites
Para onde vou,
                      quando
                                a
                                  dor
                                     meço?

Amanhã irei negar
O pranto dos meus versos
Nas palavras embriagadas
Na tontura de quem se perde
Na lonjura 
               do 
                  que é 
                         perto

Sou eu, ninguém
A minha própria tortura
O reflexo da vergonha
Escrito em letras de pó
Revelação oculta, suspensa
Em paredes
                  de
                      ab
                          sinto

Até ao dia em que saiba dar comigo
Até ao dia em que
Eu seja quem sabe aonde vai
Quem tem a sua senda
Mas hoje
Neste hoje eterno
Mais não sou
                    que
                       labirinto.

sábado, 3 de novembro de 2012

Finish This Book

Neste fim de semana em que sou apenas eu, a chuva e os meus cães, é o momento certo para resgatar projectos abandonados. A paralisia a que votei os personagens das minhas histórias envergonha-me. A poeira acumulada entre capítulos pesa-me na consciência. É preciso terminar o que iniciámos. Chegar ao fim da corrida, mesmo que sejamos os últimos. Mesmo que não haja espectadores nem aplausos. Na meta, à nossa espera, teremos o sentido de um dever cumprido. Uma história que terá, ao menos, pés que farão o seu caminho e membros que irão envolver-nos num abraço e dar-nos um pouco de paz.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A nossa Casa

Dizem que não devemos regressar aos lugares onde fomos felizes. Mas a casa onde passei os verões da minha infância está assim, mais bela do que nunca. E os meus pais vivem dentro dela. Abençoados sejam, por cuidarem deste lugar assim. Aos meus pais, a minha gratidão.
                        

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dia das Bruxas

Como tenho a desculpa de achar muito mais graça ao Dia das Bruxas do que ao Carnaval, aqui deixo, em jeito de celebração, um toque de Tim Burton: "The Worst Pies in London", do filme SWEENEY TODD (2007), interpretado por Helena Bonham Carter, mulher do realizador, e uma das suas actrizes preferidas, tal como o actor Jonny Depp.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Eugénio de Andrade

Versos tão actuais...
Óleo sobre tela (35x25) de Ana Paula Lopes
Urgentemente

«É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.»
(Eugénio De Andrade)



A Assírio & Alvim vai publicar a obra completa do autor e acaba de lançar os dois primeiros volumes. É uma boa notícia, uma homenagem mais que merecida a este autor semi-esquecido e que em boa hora vê de novo a luz do dia. Para mais, espreitem o excelente blog da Maria do Rosário Pedreira: 

PEN Clube

Não há dúvida de que, quando um autor confessa e partilha o tempo e os lugares que percorreu, a escrita sai sincera, logo, Verdadeira. Rita Ferro publicou, em 2011, o romance autobiográfico A Menina É Filha de Quem? O PEN Clube Narrativa acaba de lhe ser atribuído e eu, como admiradora e amiga da Rita, aqui deixo o meu orgulho! :)
Para mais informações sobre a atribuição deste e doutros prémios  PEN Clube acabados de sair do forno, leiam o artigo no JORNAL "PÚBLICO"

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

À mesa


O futuro, à mesa

Quero a minha casa 
Cheia de escritores, filósofos, pintores
Artistas, poetas, escultores
Gente louca que perfume o ar
Com o incenso insensato do seu riso
Com o espírito indomável do pensamento invulgar

Quero a minha mesa enfeitada com arte
Gente que chega e que parte, a toalha manchada
Das nódoas de vinho de Beaudelaires e Kafkas
De Pessoas e Rodins que me animem as manhãs
Todos os heterónimos das letras contemporâneas
Bocas cheias de musas, parras, cachos de uva
Espremendo o pensamento que jamais se clarifica
Antes se atropela e despedaça
Se incompleta e eterniza
Aguçando a ponta dos galhardetes
Hidratos na curva macia de um prato de massa

Quero o peito trespassado de abraços
A inteligência risonha de gente insana
Que não esqueço, que agarro e adormeço
Quando o dia rompe como um laço
De mortos sempre vivos em livros e telas e bustos
Em fotografias
A travessa transbordando, matando a fome à sede
Alimentando com loucura as ideias, puras
Iguarias.

Quero as janelas abertas ao sentir
De todos os grandes artesãos
Fazendo da casa a oficina dos seus poemas
Da paisagem os ouvidos, confessionários das mais artísticas mãos
Gargantas desesperadas de amores, paixões e outras dores
Que ao arvoredo incendiado
Deito em chamas nas manhãs de verão

Quero o prazer das estações reunido à minha mesa
Os tesouros de todas as idades
Os diálogos impossíveis de Alice
As narrativas barrocas dos inventores
Que da minha vida se faça arte, um embrião de personagens
E que a aragem das noites impeça
Que me lance na solidão das minhas memorias
Para que também eu, mesmo que pequena,
Tenha história.
(VERA DE VILHENA, inédito, Outubro 2012)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Graça Pires

"Aguardamos uma luz de seiva 
que reacenda a treva que nos cega.
Uma luz que não fira a brancura dos muros
nem as sombras dos alpendres
onde plantámos as giestas bravas.
Uma luz que devolva à terra
a farta lembrança das nascentes.
Uma luz para ficar como herança
quando as aves da morte se afastarem
para sempre deste caos
que, assustadoramente, nos acusa."

GRAÇA PIRES, in 
Uma vara de medir o sol, 2012

O blog da autora aqui, em Ortografia do Olhar, com muitos dos seus tesouros: versos, infinitos versos, sempre acompanhados por boas imagens. Lançamento de "Poemas Escolhidos" este sábado, no Porto (ver convite no blog). Sinto-me sempre grata pela descoberta de novos autores que me decifram a alma. Obrigada, Virgínia!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Manuel António Pina

Adeus senhor escritor, grande poeta. Gostava de gatos. Talvez possamos dizer que os cães são mais associáveis à prosa e os gatos à poesia. Concordam? o Manuel António era, sem dúvida, um poeta, um livre pensador, nunca submisso, nunca domesticado. Um pensador vadio. Uma perda imensa em tantos livros que ficaram por escrever, com esta partida tão prematura. Que pena não podermos domesticar a morte. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

M & m

Querida M.

Não tenho jeito para falar da morte, por isso prefiro deixar, sobre o luto deste fundo negro, uma imagem feliz das duas M's:

Meluxa 
e
Maria (Mia)

Vamos pensar nos momentos assim, de alegria, nos dias perfeitos que iluminavam os olhos, como nesta fotografia. Tão bonitas, as duas. A Maria continua connosco e nós tomaremos conta dela, pode ser? 
Fica bem, minha querida "cunhadinha melga", aonde quer que estejas. Estou certa de que será sempre um lugar mais belo, só porque lá te encontras.

Com saudade e um peito vazio de palavras

Verocas.

domingo, 14 de outubro de 2012

Decisão difícil

Tenho o coração partido. Às vezes temos de tomar decisões que fazem doer. Tentámos, TENTEI, mas não está a resultar. O Suki precisa de outros donos, não seremos nós, que temos um serra da estrela por natureza bastante territorial, um portão por onde o Suki consegue escapar-se (é gafanhoto, canguru), para vir atrás de nós, enfim, a experiência tornou-se impossível. Foram 10 dias de convívio, com boas recordações e agora temos de nos despedir...
AOS INTERESSADOS: veravilh@gmail.com

sábado, 13 de outubro de 2012

Ainda


Escrevo para saber que ainda escrevo. Para me saber viva. Para deixar a vontade correr, escorrendo ideias etílicas, e ter o consolo de me saber ainda perdida. Nem tudo está perdido nesta minha perdição. O desespero ainda é o que dele se espera. O longo suspiro ainda é o que precede o choro, que ainda consegue ver, na imagem desfocada em água e sal, a ideia que ficou espezinhada. Ainda sou o meu próprio grito.
imagem: "O Grito",Edvard MUNCH, 1893.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

C

onfesso que uma certa letra, um dito caractere, era um símbolo de grande personalidade. Tudo o que o caracterizava andava intermitente, diluído em "c's" invisíveis, num estatuto duvidoso que o Acordo ortográfico ameaçava confusamente. Flutuando diáfano, de alma em alma, de palavra em palavra, de corpo leve apesar de caracteristicamente pesado, já não sabia onde se arrumar. Um sentimento de mal-querença, desajuste, dis-se-ia, até, injustiça. O C andava hesitante, cabisbaixo, sem mesmo ter a certeza da sua razão de existir. A antiguidade do corpo já não importava. Era, fatalmente, um caractere exilado, extinto, sem carácter.